sexta-feira, 22 de abril de 2011

Em busca de um vida de relações saudáveis



O dia 7 de abril é destinado a comemoração do Dia Mundial da Saúde em lembrança a data da fundação da Organização Mundial de Saúde (OMS), uma entidade internacional dedicada a fornecer suporte as nações na estruturação de seus sistemas de saúde, na organização de campanhas, entre outras ações. Transcorridos 62 anos de sua fundação muitos aspectos nos são fornecidos para avaliar sua posição para a consolidação de sistemas de saúde estruturados ao serviço da classe trabalhadora.
Ao mesmo tempo que convidamos a pensar a estruturação das investigações em saúde, tanto na esfera coletiva como individual, na tentativa de vencermos o modelo hegemônico médico-biológico para a promoção do fortalecimento do entendimento do perfil de adoecimento  humano como manifestações patológicas da reprodução social.
Dediquemo-nos de inicio a pensar um pouco sobre o conceito de saúde e suas implicações sobre a prática clinica e as nossas condutas cotidianas. A OMS preconiza a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças”. Para o momento histórico de sua publicação essa conceituação apresentava um certo avanço, entretanto deixa lacunas abertas favorecendo a uma compreensão limitada da magnitude da questão.
Em primeiro lugar, expõe-se de maneira subentendida a impossibilidade de ter saúde, pois ela seria um reflexo de um completo bem-estar. Esta impossibilidade expressa na definição, conduz a um busca incessante para obtenção de saúde, algo a primeira vista favorável, mas quando associamos este anseio ao processo crescente de mercantilização da saúde promovida pela reprodução do capital, fertiliza-se um terreno propicio para cultivar a saúde como mercadoria e colher muitos lucros.   
Outro elemento a ser salientado resguarda-se na tentativa de dividir o bem estar humano em 3 vieses, biológico, social e psicológico. Entendemos que tal caracterização pode funcionar como um elemento didático, mas é preciso ter cuidado.
Com frequência notamos o surgimento de novas profissões com atuação no setor saúde para um melhor atendimento, algo louvável e promissor na melhoria de nossa qualidade de vida. No entanto, elas servem cada vez mais para nos compartimentalizar, como um quebra-cabeça montado por várias pessoas que encaixam as peças de maneiras individualizadas e sem observar a ação do outro. Eis a preocupação em conceber um bem estar em 3 âmbitos, quando eles precisam ser percebidos de maneira una e de determinações múltiplas entre si.
Como alternativa, apresentamos uma conceituação estruturada por Asan Cristian Laurell na categoria do processo saúde-doença. Salientamos, que a discussão aqui iniciada ultrapassa o campo da semântica, por objetivar de maneira breve a percepção da expressão do conhecimento hegemônico influenciado pela reprodução social sobre o nosso cotidiano de adoecimento e cuidado em saúde.
Laurell, em corroboração com as teorias marxistas, articula o modo como o homem se apropria da natureza em um dado momento do desenvolvimento das forças produtivas, com as relações de classes vividas - por serem estas as determinantes das articulações dos processos específicos da reprodução social -para construir as bases onde deve repousar o foco central das analises do processo saúde-doença.  Em outras palavras, o homem precisa deixar de ser categorizado como entidade biológica, para ser visto prioritariamente como ser social. A doença precisa deixar de ser encarada como uma desordem fisiológica, para ser vista como um processo de múltiplos determinantes nascidos e desenvolvidos em determinado meio social, sem deixar de envolver as relações de classes, as quais em nosso meio são estabelecidas como um processo exploratório.
Desde as primeiras décadas de estruturação do capitalismo muitos pesquisadores já correlacionavam o trabalho nas fábricas, com extração de mais valia, com o desenvolvimento da maioria das enfermidades que assolavam a classe trabalhadora. O próprio Engels tem um trabalho que avalia a condição da classe trabalhadora inglesa no século XIX, no qual apontava, por exemplo, a alta incidência de doenças no trato gastrointestinal, como gastrite, vinculada ao modo de vida dos trabalhadores.
Para finalizar, apresentamos para consolidação desse trabalho uma das principais contradições do capital evidenciadas no setor saúde: ao mesmo tempo que o capital adoece o trabalhador pela extração de riqueza do seu trabalho, ele precisa garantir condições mínimas para manutenção da vida do trabalhador. No entanto, ele precisa fazer isso sem demonstrar onde repousa o nascedouro das mazelas sociais, e ainda reforçar suas potencialidades em promover avanços técnicos científicos para garantia da longevidade humana.
Pela falta de tempo e espaço retratamos apenas um exemplo que materializa essas contradições. Em nosso tempo já conseguimos produzir medicamentos de altíssimo custo para o combate de determinados cânceres  para cada individuo, mas ainda não conseguimos distribuir medicamentos de baixo custo para toda população hipertensa e diabética. Como também, evidenciar o desenvolvimento e agravo dessas doenças com o processo de trabalho.
Para transformarmos realmente esse dia 7 de abril em uma data de defesa da saúde precisamos - além de fortalecer a luta pela construção de um sistema de saúde capaz de atender as necessidade da classe trabalhadora - avançar na resolução de uma questão: O nosso atual modelo de sociedade capitalista tem maior condição de nos levar ao adoecimento ou a promover um acesso a equânime a vida saudável? Questões semelhantes como estas já foram feitas em inúmeros momento na história, bem como na atualidade, e a sua resolução sobre bases cientificas alicerçou a fundamentação política de muitos movimentos sociais em prol de uma sociedade de relações mais saudáveis. 


Álvaro Bezerra


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